13 maio
Se não sabe a resposta, mude a pergunta
Se não sabe a resposta, mude a pergunta
“Quem trabalha mais na terra,
o homem ou o sol agrícola?
Entre o abeto e a papoula
a quem a terra quer mais?
Entre as orquídeas e o trigo
para qual é a preferência?
Por que tanto luxo para um flor
e um ouro sujo para o trigo?
Chega o Outono legalmente
ou é uma estação clandestina?”
O Livro das Perguntas (Ed. Cosac Naify), de Pablo Neruda, tradução de Ferreira Gullar e ilustrações de Isidro Ferrer
No post da semana passada, falamos sobre um assunto do relatório “21 Temas para o Século 21” do Pnuma (programa de meio ambiente da ONU): a “ponte quebrada” entre cientistas e políticos. O fato mais recente que comprova essa necessidade de diálogo é novo Código Florestal, aprovado há três semanas pela Câmara dos Deputados e que aguarda a sanção (ou o veto) presidencial até o dia 25 de maio. O projeto completo pode ser acessado por meio do link.
O atual Código Florestal é de 1965. Os ruralistas justificam que ele precisa ser mudado para o Brasil continuar crescendo. Já os ambientalistas alegam que o crescimento é possível com maior eficiência. Ou seja, o Código está bom do jeito que está. Por fora, corre também uma preocupação do Governo com a repercussão internacional do assunto, num momento em que o Pais se esforça para trazer o maior número de chefes de Estado e de Governo para a Rio+20, que já é no mês que vem. Paralelamente a isso, na semana passada, virou febre na internet a campanha “Veta Tudo, Dilma”, que cobra da Presidência da República o veto total ao texto enviado pelo Congresso. Qual seria o custo eleitoral e da imagem do Brasil no exterior de uma decisão favorável ou contra o novo texto? Tudo isso é política.
Mas e a ciência? “Os cientistas não são ouvidos pelo governo porque não temos uma “bancada de cientistas” no Congresso, como têm os ruralistas. A ciência nacional cresceu e se fortaleceu, temos pesquisadores sendo disputados por instituições de pesquisa respeitadas em todo o mundo. Agora os cientistas deveriam ser ouvidos. Nós temos uma proposta para o Código Florestal, assim como temos um material que levaremos para discussão na Rio+20. Deveríamos ser mais ouvidos”, diz Helena Nader, presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), em entrevista ao jornal Folha de São Paulo.
A SBPC e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) instituíram, em junho de 2010, um grupo de trabalho para analisar o projeto de mudança do Código Florestal. De caráter interdisciplinar, o grupo fez um estudo que resultou no livro “O Código Florestal e a Ciência: Contribuições para o Diálogo”, que pode ser baixado pelo link.
“Não existe necessariamente uma dicotomia entre produção e conservação. Uma discussão ampla e sadia, fundamentada no conhecimento científico, teria gerado um texto que colocaria o Brasil como grande referência mundial na produção de alimentos, ao mesmo tempo em que promoveria a conservação de seus recursos naturais e da sua biodiversidade. Por conta do jogo político, essa oportunidade foi perdida”, diz Paulo Groke, engenheiro florestal, diretor de meio ambiente do Ecofuturo e autor do belo e inspiracional artigo “Piracema”, que você encontra na página 66 do livro “Cuidados com a vida”.
Se você estivesse com a caneta na mão, o que faria? Sancionaria o projeto? Vetaria? Vetaria em partes? Não sabe? Discuta o projeto em sala de aula, com amigos, com os vizinhos, com a família e compartilhe conosco!