30 jul

Papo com autor

PAPO COM O AUTOR
 
Na nossa Biblioteca Virtual , há vários materiais de referência para inspirar e embasar você, professor e educador, a construir um belo projeto para o 3o Prêmio Ecofuturo de Educação para Sustentabilidade, que, este ano tem o tema “Rio+20: e eu com isso?”. As inscrições vão até 30 de setembro.
 
Uma das obras da Biblioteca é o livro “Cuidados com a Vida”, que conta com 20 artigos de renomados especialistas de diversas áreas do conhecimento. São textos leves, que contribuem com a percepção sobre as diversas formas de cuidado que podemos ter com a nossa vida, a vida do outro e a vida do planeta.
 
O primeiro artigo do livro é “Sementes de Florestar Corações”, escrito pela atriz, professora, contadora de histórias e pós-graduanda em Ecologia, Arte e Sustentabilidade, Adriana Fortes. É leitura obrigatória para você, que faz parte dessa rede que acredita que o amor e a coragem podem reflorestar corações e o mundo. Convidamos a Adriana para um bate-papo com a gente. Leia, divirta-se e inspire-se a fortalecer as relações e a criar habilidades para que as crianças, jovens e adultos de hoje possam criar o mundo que a gente quer amanhã.
 
 
 
Em seu artigo no livro “Cuidados com a Vida”, você conta a história de uma floresta que começa com um pequeno arbusto, que teimou em nascer num ambiente inóspito. Se a gente imaginar a Terra como o ambiente inóspito, quais ações professores e educadores (que agem como formigas e cupins arejando o solo e as ideias) podem tomar para que em suas comunidades brotem arbustos e, com o tempo, possam desfrutar das sombras das florestas?
 
A cada dia que passa, acredito mais na ideia de vincularmos os conceitos ensinados na escola à ação prática. Questões como o lixo, a água, produção de alimentos podem ser muito facilmente desdobradas na escola dentro de uma abordagem prática. E relacionados às mais diversas áreas de estudo e aprendizagem! A produção de composto orgânico ou de húmus num minhocário, além de reduzir em aproximadamente 70% o lixo de um lugar, também pode ser o mote de aprendizado de química, biologia, matemática, além de um belíssimo exemplo de cooperação entre diferentes formas de vida – e o professor ou educador, não precisa já ter feito todas as experiências, ele pode se embasar para o início da atividade, e o restante descobrir junto com as turmas. Quando eu aprendi sobre captação de água eu pensava: por quê quando me ensinaram equações para cálculo de área, não me puseram a calcular a área do telhado da minha escola, ou da sala de aula? Coisas assim deixam o aprendizado mais palpável e significativo. Aí os conceitos se fixam mais facilmente quando conhecidos a partir da experiência.
 
Num belíssimo artigo sobre “Escolas para o Seculo XXI", o educador norte americano David Orr , nos inspira a refletir sobre a educação, e aqui destaco um parágrafo que dá uma visão geral do tema: “As gerações futuras precisam aprender a utilizar melhor a energia e os materiais disponíveis. Precisam aprender a usar a energia solar sob todas as suas formas. Precisam eliminar a poluição e o desperdício. Precisam aprender a administrar recursos renováveis. Precisam iniciar a imensa tarefa de restaurar, da melhor forma, os danos causados à Terra nos últimos 200 anos de industrialização. E tudo isso precisa ser feito, enfrentando as iniqüidades sociais e raciais. Nenhuma geração teve que encarar tamanho programa de trabalho. Continuamos, porém, a educar nossos jovens como se não houvesse nenhuma emergência planetária. Mas, a crise que enfrentamos é principalmente uma crise da mente, da percepção e dos valores — portanto, um grande desafio para as instituições que formam mentes, percepções e valores. Um desafio educacional.” (David Orr)
Como a vida se reflete em todas as direções, acredito que no âmbito menor, dentro da sala de aula, de uma escola ou de um grupo, muitas dessas questões estão presentes e podem ser terreno de intervenção. Aprender que podemos interferir no curso das coisas e modificá-las é um grande aprendizado!
 
Você é atriz, professora, contadora de histórias e pós-graduanda em Ecologia, Arte e Sustentabilidade. Como professores e educadores de todo Brasil podem agregar a arte em projetos de educação para sustentabilidade?
Não tem aquele dito popular que de artista e louco todo mundo tem um pouco?
 
Pois então! A loucura entra no sentido de irmos por um caminho novo, nos permitirmos trilhar e criar junto com os alunos algo que seja próprio do grupo, do local em que está, inspirando-se em experiências que já deram certo sim, mas permitindo-se descobrir dentro de um contexto tão específico que só o educador e seu grupo naquele determinado espaço possuem.
E a arte pode entrar para tornar a experiência ainda mais significativa. Acredito que os professores e educadores podem, a partir da linguagem artística que tenham mais afinidade, desenvolver ações de cuidado com o lugar em que estão ou arredor que um grupo queira adotar. E aí vale, usar o teatro para limpar uma praça. Ou o canto para convidar a comunidade a participar, ou poemas e placas decoradas para aproximar as pessoas das plantas, ou uma fotonovela onde os personagens fazem captação de água da chuva, minhocário, separação do lixo para reciclagem, cultivam uma horta, etc. Mas é muito importante que a arte esteja ligada a uma ação real, eu acredito. Acho que hoje já não basta fazer na escola uma peça para dizer pras pessoas que é preciso economizar água. Se o grupo quer falar disso, ótimo, mas precisa se ligar a uma ação real, então pode captar água da chuva pra se lavar o pátio da escola e mostrar na prática quanta água da torneira se economiza com essa riqueza que vem do céu. Uma vez, como professora de teatro, instiguei esse tipo de ação com os grupos: cada grupo escolheu um lugar para adotar; e então, a cada aula, voltávamos a esse lugar e decidíamos a ação real (recolher o lixo, ou organizar um círculo de contorno, ou semear flores, etc) e logo depois decidíamos quais personagens viveriam essa ação, e eles seguiam fazendo uma improvisação cênica junto com uma ação real de cuidado. As turmas adoravam e no final, além do prazer que o teatro havia dado, tinha a alegria de ver um espaço transformado, mais bonito e exalando o perfume do cuidado!
 
Posso recomendar um livro, cheio de ideias boas, de ações reais com toques muito criativos para uma prática mais ecológica na escola e na vida?
LEGAN, Lucia. A Escola Sustentável. Ecoalfabetizando pelo ambiente. Publicado pelo IPEC (Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado). ISBN: 978-85-7060-521-4
Edição: 2° – 1º Re-impressão 2009
 
 
O que o relacionamento entre as pessoas, o amor, a amizade e a família têm a ver com sustentabilidade?
 
 
O amor, a amizade e a família tem tudo a ver com a sustentabilidade, mesmo que a nossa família (de sangue) possa ser toda desestruturada ou mesmo sem harmonia – como acontece às vezes – somos todos parte dessa família planetária, irmãos da água e do vento – como dizia São Francisco de Assis, e estamos aqui para cuidar da vida.
            As dimensões de tanto do que há por fazer são enormes. Na prática podemos sim fazer muita diferença sozinhos (como aquele arbusto que resistiu no sol forte e terra fraca até que ele criou condições pras outras plantas e animais virem a cuidar também daquele lugar até que se tornasse fértil, ou mesmo como aquele “homem que plantava árvores” http://youtu.be/Klx8UBMRrMA). Mas em relação com as outras pessoas aumentamos em muito nosso potencial de transformação! Quer ver um exemplo? Um borracheiro tinha um grande problema com tantos pneus velhos; perto dali alguém tinha um barranco que sofria erosão. Pronto, graças à relação entre as pessoas, a informação circulou, e o que era problema para um, virou a solução para o outro. Os pneus deram sustentação para o barranco e ainda permitiram o plantio de flores e alimentos. Por isso que se diz na permacultura que o “problema é solução” e que “poluição é um recurso certo no lugar errado”.

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