10 abr
“Nem tudo que conta é contável, nem tudo que é contável conta” (Albert Einstein)
Minha pior nota na escola sempre foi em Português. Elas não passavam de sete. No máximo, um sete e meio. Sempre foi muito difícil entender todas aquelas regras da gramática e seus nomes horrorosos, como proparoxítona, pretérito, palíndromo. Minha mãe uma vez me obrigou a escrever cem vezes a palavra “começar” para eu aprender que era com “Ç” (de fato, nunca mais me esqueci).
Estudava em colégio particular, aquele oásis no meio da vida seca que é a educação brasileira. Um lugar onde os pais pagam com o suor a esperança de um futuro. Mas o suor virou pó, e eu tive de estudar em escola pública. Deixei a capital para morar no interior.
Naquela época, a internet estava longe de ser popular. Matar as saudades só por cartas. Gostava de escrever a lápis para ouvir o barulho do grafite sobre a folha em branco. E começava ali a escrever de próprio punho minha própria história. Dia após dia, escrever deixou de ser tarefa para prova e virou necessidade. Virou valor. E virou profissão. Estudei em universidade pública e, aos 30, já trabalhei nos dois maiores jornais do país e estou construindo uma carreira nessa área. Detalhe: sem nunca ter aprendido as regras gramaticais, mas usando-as razoavelmente bem, acho eu.
Na semana passada, li uma matéria do IG que diz que a escola de maior Idesp (Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo) de 2012 realiza provas toda semana (clique aqui para ler na íntegra). De acordo com a reportagem, a diretora acredita que os bons resultados estão relacionados com as avaliações semanais. Não há dúvidas. Quanto mais treinados os alunos são para responder determinadas perguntas, menos chances eles têm de errar as perguntas.
Mas boa nota é sinônimo de boa educação? Dia desses, ouvi uma história curiosa. Uma mãe me contou que a filha mais nova, de sete anos, chegou em casa dizendo que o vidro não se decompunha e que o plástico demorava décadas para se decompor. A mãe, que entende mais de educação do que muita gente, perguntou: “e você sabe o que é decompor?”. A filha balançou a cabeça e disse: “não”. Ou seja, numa prova, a pequena teria tirado dez, mas qual sentido tem para ela o que aprendeu na escola de forma descontextualizada? Que habilidade adquiriu para fazer simples escolhas no dia-a-dia apesar da pouca idade? Sim, porque isto é perfeitamente possível e desejável.
Não nego a importância das avaliações e de se educar para o vestibular. Fico preocupado se estão realmente apropriando conhecimentos e habilidades que possam colocar em prática para a vida, para a sustentabilidade de todas as vidas. Os jovens são educados para responder A, B, C, D ou E, mas quando saem da universidade são obrigados a aprender na marra que, talvez, a melhor resposta para uma pergunta seja F ou C + D – E. Com o tempo aprendemos que a vida não é tão exata quanto a prova. E que o certo é tão incerto quanto o futuro que temos pela frente. Ainda bem.