26 jul
Leitura: passaporte para um novo Brasil
Por Marcela Porto
Começo aqui com uma pergunta: o que significa fazer do Brasil um país desenvolvido? Para muitos, desenvolvimento é sinônimo do alcance dos índices de riqueza de nações como Estados Unidos, Dinamarca e Inglaterra. Nesta concepção mais clássica, desenvolvimento está atrelado muito mais ao crescimento econômico do que com outros “tipos” de evolução, como “desenvolvimento sustentável” ou “desenvolvimento humano”, para citar alguns termos mais recentes. Mas será que estes conceitos se configuram mesmo em categorias separadas? Acredito que dissociar a palavra desenvolvimento de todos esses vieses e tratá-los de forma distinta e segmentada é, se não, um equívoco.
O economista indiano ganhador do Prêmio Nobel, Armatya Sen, autor do livro “Desenvolvimento como liberdade” nos fornece algumas reflexões interessantes. Para Sen, desenvolvimento vai além de crescimento econômico e deve olhar para os indivíduos, suas necessidades, seus valores. Garantir a expansão das liberdades de seus cidadãos significa tratar a todos como agentes, com capacidade de autonomia e autodeterminação na mudança da sua realidade individual e, consequentemente, da transformação da vida em comunidade e do próprio meio onde vivemos.
Assim, o desenvolvimento de um país parte da ampliação das capacidades individuais de articulação de valores, vontades, necessidades e até mesmo de seus sonhos. Parte primordialmente, se voltarmos em sua essência, na criação desta oportunidade de escolha, que não é nada mais que a possibilidade de compreender o que precisamos, o que é melhor para todos, quais os problemas que queremos sanar e então, quais as soluções que melhor nos representam.
Nesta construção, a competência plena da leitura é um instrumento determinante. É por meio dela que portas são e serão abertas para um novo Brasil. A leitura é um dos componentes da construção do desenvolvimento porque permite à criança e ao jovem a possibilidade de descobrir não apenas quem é, mas também quem quer e pode ser. Onde quer viver e como quer viver. A leitura dá acesso à informação e ao conhecimento, contribui para a construção do pensamento crítico, da argumentação, da capacidade de análise e da possibilidade de ir além. Muitas vezes é se conscientizar e mergulhar em universos muito diferentes da nossa própria realidade. É despertar, sobretudo, a criatividade e a imaginação, um poderoso alicerce para sonharmos e, mais adiante, realizarmos.
Por meio do projeto Biblioteca Comunitária, do Instituto Ecofuturo, tenho acompanhado a importância da expansão do acesso ao livro e da promoção de leitura, e esta capacidade das nossas bibliotecas de fomentar o aumento do número de leitores no Brasil. Para muitas regiões que atuamos, a chegada da biblioteca comunitária é sinônimo de empoderamento e um exercício de cidadania. É a melhoria do olhar do poder público para a educação. É a construção de um espaço físico seguro e confortável onde se permite o vínculo com o mundo da imaginação, da cultura, da inovação e com o país que queremos. Abrir livros, de fato, é abrir horizontes.
É impossível dissociar o desenvolvimento do Brasil, do desenvolvimento de suas crianças e jovens. Ler é transitar entre o universo da imaginação e da razão. É construir seres humanos capazes de tomar decisões e agir para melhorar a si mesmos e assim a comunidade em que vivem. É sensibilizar para questões que muitas vezes se encontram distantes, e aumentar o senso de responsabilidade de cada um para transformação da sociedade e do mundo em um lugar melhor para todos.
São muitas as possibilidades de respostas à minha questão inicial. Acredito que todas estejam certas de alguma forma, mas estou cada vez mais segura em afirmar que todas possuem a leitura como essência. Boa parte das grandes questões pode ser solucionada com conhecimento e fazer do Brasil um país de leitores é condição para fazê-lo um país desenvolvido.
A boa notícia é que parte deste caminho já estamos trilhando. O gosto pela leitura já existe, e comprovamos pela experiência do projeto do Ecofuturo: em todos os nossos processos de implantação de bibliotecas, por mais remotos que tenham sido, sempre encontramos alguma iniciativa prévia de promoção de leitura na comunidade, como “jegue-livro” ou “bicicloteca”. O nosso desafio, ao meu entendimento, é promovermos e viabilizarmos cada vez mais o acesso aos livros. E, certamente, uma boa biblioteca faz parte dessas respostas.
Marcela Porto é Superintendente do Instituto Ecofuturo, mantido pela Suzano, e também lidera a Gestão da Comunicação da Suzano.