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Entre livros, estantes e camelos: a organização do acervo pessoal
Conta-se que um grão-vizir da Pérsia costumava levar toda a sua biblioteca nas longas viagens que empreendia. Para isso, utilizava quatrocentos camelos treinados para andar em ordem alfabética. Não sabemos quantos livros um camelo é capaz de transportar, mas com certeza a maioria de nós, pobres mortais, não precisa copiar esse curioso método, por pelo menos três motivos. O primeiro deles é que nossas bibliotecas certamente são mais modestas – ou mais compactas – do que a do excêntrico estadista. Além disso, nossas viagens são geralmente mais rápidas, pelo tipo de transporte que temos à disposição. E, por fim, temos outras soluções de consulta a livros e materiais impressos e digitais. Se quiserem um quarto motivo: convenhamos que dispor de pelo menos um camelo, nos dias de hoje, pelas bandas de cá, não é tarefa muito fácil. Camelo adestrado, então, nem se fala! O desafio que nos cabe, portanto, é dar conta de organizar o acervo que temos em casa.
Acredite: aqueles livros que vamos amontoando por todos os cantos da casa, quando pensados em conjunto, se chamam… biblioteca. Às vezes nos esquecemos disso, acostumados que estamos a pensar em biblioteca, em primeiro lugar, como um prédio à parte. Mas biblioteca também pode ser, num sentido mais restrito, simplesmente o coletivo de livros. Sim, você tem uma biblioteca em casa!
Como a nossa biblioteca é bem mais modesta – e mais compacta – do que a de Alexandria, aquela que pretendia abrigar a totalidade do conhecimento humano ou a “memória do mundo”, a nossa organização exigirá muito menos trabalho. E por ser bem menos sistemática, pode ser uma tarefa divertida.
Uma biblioteca interessante é aquela composta tanto por livros que já lemos como por livros que ainda vamos ler. Mas se há algum livro ali que você tem certeza que não vai ler, doá-los ou trocá-los, entre amigos ou em sebo, é uma forma praticamente sem custos de renovar o acervo. Aliás, renovar não significa adquirir apenas as obras recém-lançadas; os clássicos literários, não importa em que tempo ou em que ordem são adquiridos, fazem parte da alma de qualquer biblioteca.
Por falar em ordem, cada um tem sua forma de se organizar. O importante é que você entenda o seu próprio método, de modo que facilite a localização do livro de que vai precisar. Letras, cores ou números podem separar os volumes por grupos e temas, as lombadas podem ser etiquetadas… Alguns simplesmente põem os lidos de um lado e os não lidos do outro, às vezes com uma reserva de espaço para os que pretendem reler. Outros se orientam pelo afeto: aqui os que eu adoro, ali os de que gosto mais ou menos, lá adiante os obrigatórios mas um pouco chatos… Vale também organizar por cor, por tamanho, por gênero, ordem alfabética… O importante, como dissemos, é que a ordem faça sentido para você.
Então, mãos à obra.
Primeiro retire tudo da estante. Não se esqueça de chamar as crianças, e prepare-se: elas vão se empolgar. É a hora de descobertas de grandes tesouros que a bagunça havia encoberto. A partir daí, seguindo seus próprios critérios, comecem a organização. Não importa em que parte da casa estejam as estantes, mas importa que seja longe da umidade e com boa circulação do ar. Certifique-se de que o local não está acumulando poeira, para ninguém ter crise de espirro ao virar as páginas. Vigie se por ali não aparecem, vez ou outra, cupins e traças. Uma vez organizado, o acervo vai ajudar a compor o ambiente. Como você pretende adquirir mais livros, é importante ter sempre um espaço reservado para os novos que chegarem.
Os livros infantis devem ficar nas prateleiras mais baixas, ao alcance das crianças. Se tiver um cantinho para uma biblioteca exclusiva dos pequenos, melhor. Provavelmente, esta não vai ficar por muito tempo organizada – o que é ótimo. E a partir disso vocês podem criar “o dia de arrumar a biblioteca”. No ato lúdico de pensar o lugarzinho de cada volume, lembranças de leituras podem ser reavivadas e o desejo de reler este ou aquele livro se manifesta. E como uma memória puxa a outra, relembrar a forma como cada livro chegou até ali vira uma brincadeira repleta de afetos.
Você já se convenceu de que o uso de camelos para a organização da biblioteca pessoal não é método dos mais viáveis. Mas, se ainda assim, gostaria de catalogar o seu acervo pra melhor controlá-lo, existem alguns programas de computador gratuitos. Por exemplo, o
BookDB2, que, além de sistematizar a localização de cada volume na estante, permite que o usuário faça controle de empréstimos. Nunca mais aquele amigo querido mas um pouquinho folgado vai “se esquecer” de devolver o que emprestou de você. Agora, se você é que se esquece de devolver o que toma emprestado do seu amigo, pode pular essa parte.
Equipe responsável: Instituto Ecofuturo
Texto: Reni Adriano