02 jul
Do outro lado do mesmo front
Do outro lado do mesmo front
No post da semana passada, convidamos a bióloga e socióloga Rita Mendonça, do Instituto Romã, para compartilhar com a gente sua visão de dentro para fora sobre a Rio+20, com olhar experiente de quem atua há anos em prol da sensibilização para a sustentabilidade do planeta. Ela disse: “O que cada um realiza em seu pedaço de chão é muito mais forte e determinante do que as decisões políticas. Ou melhor, isso é uma atitude política!”. A entrevista completa você pode ler aqui.
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Nesta semana, para dar continuidade à nossa prosa, convidamos a jornalista Andréa de Lima, coordenadora de comunicação do WWF-Brasil, para contar suas impressões sobre a Rio+20. “Um outro evento como esse só fará sentido se for muito além de palavras. Tem de fazer sentido no dia a dia da vida da gente. Por exemplo, falar sobre segurança alimentar, hídrica, energética e floresta para todos, o que isso quer dizer?”, questiona.
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Assim como a Andréa, a gente também acredita que a Rio+20 é ponto de partida. Um novo ponto de partida. É oportunidade para transformar palavras em ações, por meio de um olhar 360o: transformando no presente o local onde vivemos de olho no futuro do mundo de todo mundo. Por isso, o 3o Prêmio Ecofuturo de Educação para Sustentabilidade, com o tema “Rio+20: e eu com isso?”, convida professores e educadores sociais a criar e sustentar o movimento dessa roda da vida.
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Por que? Porque são os responsáveis por desenvolver as habilidades de crianças, jovens e adultos para que possam imaginar, inovar e criar as condições para a construção de um mundo verdadeiramente sustentável. O que se faz na escola, reverbera por toda a comunidade. E o que muda na sua comunidade, ajuda a mudar no mundo todo..
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E você, professor e educador, participou da Rio+20? Acompanhou os eventos? Conte pra gente o que achou. Não pôde ir ou acompanhar? Envie suas perguntas. Este blog é um espaço de diálogo pra gente construir juntos a vida que a gente quer.
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Agora, com a palavra, Andréa de Lima!
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Qual o balanço que você faz da Rio+20? Foi positivo? Foi insuficiente? Por quê?
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Bem, antes de mais nada, é importante que eu diga que a minha empreitada na Rio+20, infelizmente, não incluiu a oportunidade de participar e viver a programação gigantesca desse evento. Até porque acabo de assumir um novo desafio profissional – a coordenação de comunicação do WWF-Brasil – no meio do olho do furacão, que foi essa Conferência das Nações Unidas pelo Desenvolvimento Sustentável. E esse desafio exigiu de mim coordenar uma equipe de comunicadores brasileiros e uma interface com outra equipe internacional de “pandas”. Por isso mesmo, minha avaliação do evento e do saldo dele é distinta. Isso porque participar dessa cúpula, a “oficial” e não a dos povos – pelo que lamentei profundamente – foi uma experiência histórica, mas pouco ou nada emocionante. Seja porque os resultados, leia-se o documento final resultante desse encontro, ou o processo de negociação em nada observaram (a despeito de suas promessas) a participação ou a transparência. Isso para uma comunicadora, como eu, já fere princípios óbvios de direitos e desejos.
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Igualmente é importante ressaltar de que lugar eu estou falando: sou integrante de uma ONG comprometida com a conservação da natureza e, por isso mesmo, articuladora de políticas públicas para esse tema. Se todo o debate em torno da economia verde inclusiva (conceito, ou melhor seria defini-la como um valor, a exemplo da sustentabilidade) sinalizava, no início, uma possibilidade de equalizar e mesmo equilibrar o debate entre as dimensões econômica, social e ambiental (sem falar na humana), o que não ocorreu. Quiçá então falar em limites planetários, para demonstrar quão longe já fomos na exploração desmesurada e consumo dos recursos naturais, sem garantias nem direitos às gerações futuras. Não chegamos nem de longe perto disso, como tão acertadamente queriam e endereçaram os cientistas, pra mim os melhores contribuintes para a discussão da agenda proposta. Foi mesmo uma conversa sem escuta, muito menos um diálogo.
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(nota do blog: você pode ler neste post um pouco mais sobre a teoria da ponte quebrada entre cientistas em políticos http://www.ecofuturo.org.br/premio/blog/show/753 )
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A atmosfera nos dias que antecederam e durante o evento oficial era de tensão e expectativa por um documento que realmente resultasse, na indução de comprometimentos, ainda que voluntários. Não conseguimos isso. Daí tamanha frustração no final. Nossa missão, a de cada um de nós, continua, é fato.
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Muitas pessoas disseram que a grande perdedora da Rio+20 foi a mulher, por causa da retirada da menção relativa ao direito das mulheres à sexualidade, à reprodução e ao planejamento familiar no texto da Convenção. Você concorda com isso? Qual o papel da mulher na sustentabilidade do planeta e qual é a relação disso com direitos à sexualidade, reprodução e planejamento familiar?
 
As mulheres são guardiãs da garantia desses direitos (à sexualidade, à reprodução e ao planejamento familiar), essa exclusão foi não apenas um desrespeito, mas uma atitude negligente para com uma causa que já obteve conquistas. Uma vez mais ficamos reféns não apenas de palavras (inseridas ou retiradas do texto), mas sobretudo, da falta de co-responsabilização e de comprometimento.
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Em entrevistas, representantes da Cúpula dos Povos disseram “não” à chamada “economia verde”. Você pode nos explicar o que é “economia verde”, seus prós e contras?
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De forma sintética, a economia verde é a que viabiliza o desenvolvimento sustentável, baseado em seus três pilares, econômico, social e ambiental, assegurando a valorização e manejo eficiente dos recursos naturais, salvaguardando o mundo natural para as gerações atuais e futuras, a melhoria de qualidade de vida, geração de emprego e redução de desigualdades sociais e o crescimento econômico. Esse tão desejado equilíbrio requer da gente muitos desapegos, uma capacidade enorme de reconhecer nossa interdependência, a começar por esse princípio que temos de compartilhar, dividir mesmo, de que é preciso muito pouco pra viver, bem menos do que imaginamos ou aprendemos que de fato vamos necessitar. Daí que assim como as críticas recorrentes à sustentabilidade, a economia verde ganhou o adjetivo inclusiva na Rio+20, não por acaso. Não será fácil incluir a todos, mas esse esforço é um desafio pra todos nós.
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Como professores e educadores podem trabalhar os assuntos que foram destaque na Rio+2 0 localmente, Brasil adentro? Quais ações você viu por lá que poderiam inspirar ou mesmo serem adotadas pelos educadores?
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A Rio+20 foi uma oportunidade para os países definirem um conjunto padrão de métricas para avaliar o desempenho ambiental ao lado das que já existem, como o Produto Interno Bruto (PIB), do ponto de vista econômico, e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), do ponto de vista social, do desenvolvimento sustentável. Acredito que pouca gente sabe o que são esses indicadores nem como eles funcionam. Acho uma tremenda oportunidade pra quem leciona, como eu, destrinchar essa ferramenta, porque a gente tem de saber disso, saber como, o que medir e pra quê.
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Uma enorme contribuição, mencionada muito timidamente na Conferência, foram os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, um novo indicador para avaliar anualmente as mudanças e fluxos de capital natural – valorização e o uso sustentável dos recursos naturais -, complementar aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs). A Conferência deveria aprovar os métodos e práticas comuns a serem adotadas por todos os países. Tais métricas deveriam ser construídas a partir de iniciativas existentes, como a Pegada Ecológica e o Índice Planeta Vivo, o Sistema das Nações Unidas de Contabilidade Ambiental e Econômica (SEEA), a Parceria Global do Banco Mundial para a Contabilização da Riqueza e a Avaliação dos Serviços dos Ecossistemas (WAVES).
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Considero o tema, indicadores, mais que urgente. Eles podem não apenas inspirar, mas ajudar a gente a compreender o mundo, onde estamos e onde desejamos ou devemos chegar. Até porque, reduzir desenvolvimento sustentável à coleta seletiva ou à reciclagem, no âmbito da educação, não dá mais. A educação precisa evoluir muito, claro, mas ainda mais fazer sentido.
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A resposta que aguardamos dos educadores participantes do 3º.Prêmio Ecofuturo é “Qual é para você, educador, o evento +20 possível e pertinente no seu pedaço de mundo?”. Gostaria que você apontasse uma pista em função dos resultados da Rio+20. Afinal, o trabalho pela sustentabilidade continua com o fim do evento. E agora? Como caminhar para a Rio+40 sem novas perdas? O que podemos de devemos fazer hoje: em casa, na escola, no trabalho, no bairro….?
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De novo: um outro evento como esse só fará sentido se for muito além de palavras. Tem de fazer sentido no dia a dia da vida da gente. Por exemplo, falar sobre segurança alimentar, hídrica, energética e floresta para todos, o que isso quer dizer? Esses temas são caros pro WWF, e já fazemos por isso, por meio de programas de conservação, junto a diversos parceiros, tanto nas comunidades, como nos espaços onde são debatidos, decididos.
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E, pra não ficar apenas em palavras, vale uma leitura no documento final http://www.rio20.gov.br/documentos/documentos-da-conferencia/o-futuro-que-queremos/ em inglês e uma “tradução” dos pontos que nos dizem respeito, na nossa vida cotidiana, na escola, em casa, no trabalho mas, sobretudo, o que cada um de nós, individualmente e em grupo, pode fazer por essas recomendações, pois é assim que a coisa ficou. Isso pode ser bem transformador!
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muito bom seu artigo