01 set
Consciência é a nossa natureza
*Artigo publicado no joral O Diário de Mogi
Mogi das Cruzes, no auge de seus 456 anos, é uma cidade privilegiada por ter ao seu redor a presença pujante da Mata Atlântica, recordista mundial em biodiversidade, mas um dos biomas mais vulneráveis e ameaçados do mundo. A presença da Serra do Itapeti, a existência de importantes unidades de conservação oficiais e privadas e a proximidade com da Serra do Mar, conferem ao município papel de destaque na conservação ambiental.
E se ainda hoje existe essa rica biodiversidade em Mogi das Cruzes, é por conta não apenas do seu especial posicionamento geográfico, mas também de um bom trabalho de planejamento e implementação de estratégias para a conservação dos remanescentes florestais e restauração da vegetação nativa.
Se superarmos os desafios, como as ameaças da ocupação desordenada das periferias, que vêm acarretando a proliferação de loteamentos ilegais, o município caminhará para a manutenção das especialíssimas características que o tornam diferenciado em relação à conservação da natureza e à qualidade de vida da sua população.
Plantar a semente do respeito e valorização do meio ambiente não é tarefa fácil. No entanto, por meio de processos colaborativos que envolvam o setor privado, a comunidade e o poder público, em um ciclo contínuo de conscientização sobre questões ambientais e sociais, é possível fazer essa semente florescer (e dar frutos!). Para isso, são fundamentais iniciativas que contemplem o planejamento de ocupação urbana, a preservação dos mananciais hídricos e da vegetação remanescente, o ecoturismo e a educação socioambiental, sempre integrando o saber tradicional e o conhecimento científico.
Um exemplo de que esse tipo de parceria entre diversos atores pode dar certo é o Parque das Neblinas, reserva privada de uso sustentável, localizada entre Mogi e Bertioga, gerida pelo Instituto Ecofuturo, onde são realizadas ações que contribuem não apenas com a conservação ambiental, mas também com a disseminação de conhecimento e troca de experiências, formas de reestabelecer a conexão entre homem e natureza, e o despertar da consciência de que somos nós os responsáveis por cuidar do meio em que vivemos e de todas as formas de vida que nele habitam.
Um dos muitos resultados positivos decorrentes dessas iniciativas é a conservação, dentro do Parque, de 404 nascentes do rio Itatinga – importante recurso hídrico protegido pela ação de conservação das suas margens –, hoje responsável por gerar 70% da energia que move o porto de Santos, o principal da América Latina. Outro ganho foi a reintrodução da palmeira juçara, por meio da dispersão de mais de 6 milhões de sementes na área. A juçara, ameaçada de extinção pela extração ilegal de seu palmito, nutre, com seus frutos, boa parte da fauna da Mata Atlântica local que, por sua vez, contribui com o processo de restauração da floresta.
E por acreditar que é desde a infância, e por meio da educação, que devemos despertar e desenvolver essa consciência ambiental, o Parque atua também na sensibilização de professores e alunos de escolas localizadas em seu entorno para estimular a criação de contextos de aprendizagem que envolvam os elementos da natureza como tema transversal e interdisciplinar no ambiente educacional, além do entendimento pleno do ambiente natural como espaço educador. Por meio do programa de Educação Socioambiental, mais de 100 educadores e 3.600 estudantes de 36 escolas da região já foram envolvidos, desde 2010.
Trata-se de um processo contínuo e que exige muita dedicação. Mas é certo que a união de esforços promove a descoberta e a utilização das ferramentas necessárias para a conservação da biodiversidade, dos recursos hídricos, das paisagens e da qualidade de vida.
Precisamos projetar o futuro, planejar e trabalhar para que o município possa continuar desfrutando da condição diferenciada, herdada da natureza. O nosso olhar de cuidado e o resultado das nossas ações responsáveis não trarão benefícios apenas para a nossa Mogi das Cruzes. Teremos, assim, um mundo melhor para todos.
*Paulo Groke, engenheiro florestal, diretor de Sustentabilidade do Instituto Ecofuturo