24 jul
Biblioteca universal
A palavra é: acessibilidade
O tema é extremamente amplo e não se restringe ao acesso a produtos, equipamentos e serviços públicos, por exemplo, nem diz respeito apenas às pessoas com deficiência ou redução de mobilidade. Pelo contrário: visa garantir, em todos os setores da sociedade, o acesso para todas as pessoas (com deficiência ou não), na sua máxima extensão possível, por toda a vida.
Talvez por estarmos (mal) acostumados com a falsa crença de que a sociedade é algo homogêneo e que as necessidades e características das pessoas são automáticas, previsíveis e iguais, acabamos pensando que apenas algumas delas necessitam da tal acessibilidade. Claro que essa ideia é reforçada pelo fato de vermos, por exemplo, algumas instalações se adaptarem para receber essas pessoas, que, por serem minoria, não foram consideradas quando se pensou o projeto original.
Mas, o que quer dizer “minoria”, neste caso? Só no Brasil, isso significa 60 milhões de pessoas com alguma deficiência ou mobilidade reduzida. Se é assim, como diz a deputada federal Mara Gabrilli (que é cadeirante e ativista pela inclusão), a deficiência não está nas pessoas, mas na sociedade que não se articula para comportá-las. Ora, se os serviços devem estar disponíveis para todos, deve-se levar em conta que todos não são iguais…
Em vista disso, a noção de desenho universal, surgida nos Estados Unidos, tem se expandido aos poucos pelo mundo e, somada a normas técnicas nacionais, norteiam projetos arquitetônicos e implementação de equipamentos (inclusive residenciais), a partir de 7 princípios: Uso equitativo, uso flexível, uso simples e intuitivo, informação de fácil percepção, tolerância ao erro (segurança), esforço físico mínimo e dimensionamento de espaços para acesso e uso abrangente.
Para quem quer se aprofundar no assunto, basta clicar aqui, mas trocando em miúdos, tratam-se de proposições cuidadosas para espaços, objetos e produtos que possam ser utilizados por usuários com capacidades diferentes. O público-alvo do desenho universal é a totalidade da população.
Acessibilidade, portanto, é algo que ocorre quando eu, você e os outros podemos acessar com a mesma eficiência e qualidade serviços que são direitos de todos. Inclusive a informação.
Inclusive bibliotecas
Ser um espaço inclusivo é condição fundamental para uma biblioteca que atende a comunidade e precisa alcançar uma população diversa. Rampas de acesso, mapa tátil, prateleiras adequadas, acervo acessível (livros em Braille, audiolivros, literatura clássica universal e livros que abordam o tema inclusão), banheiros adaptados, sinalização e mobiliário que atendam não só as necessidades dos visitantes como também as de funcionários com mobilidade reduzida. O espaço com infraestrutura adequada garante que a biblioteca seja um ambiente de troca entre comunidade, frequentadores e escola, que desenvolve e mantém o leitor dentro da biblioteca.
Assim é no município de Flores, Sertão de Pernambuco, onde a Biblioteca Comunitária Ler é Preciso Professor Carlos Borges está instalada em espaço adequado que garante conforto e acessibilidade aos usuários. Sediada no Centro Cultural Nunense, oferece sala de informática, espaço de convivência e de oficinas totalmente acessíveis. Todo o espaço é devidamente sinalizado com placas em Braille, garantindo acessibilidade às pessoas com deficiência visual.
Mas a consciência para essas necessidades foi algo despertado aos poucos na comunidade. Ernesto Gonçalves, auxiliar da biblioteca, conta que ali pessoas com deficiência tinham o espaço reduzido, em decorrência do preconceito, inclusive dos funcionários.
A história começou a mudar a partir de cursos ministrados pelo Instituto de Corresponsabilidade pela Educação (ICE), de Pernambuco, que mobilizou não só funcionários da Biblioteca, mas professores das escolas locais e do município, jovens e toda a comunidade, através do projeto Direito de Ser. O objetivo do projeto é adaptar espaços públicos e comunitários, tornando-os acessíveis, conforme o conceito de desenho universal e a legislação vigente e fomentar o processo de inclusão social local por meio do acesso a informação e cultura. Para a intervenção de acessibilidade implementada na biblioteca, com atendimento às leis, normas e especificações brasileiras em edificações e espaços públicos, o ICE contou com a consultoria da L Herzog, empresa de projetos de design e comunicação especializada em acessibilidade e inclusão social que enviou um especialista ao local afim de analisar as possibilidades de adaptação.
“Aos poucos, e tendo um convívio corpo-a-corpo, percebemos que a diferença estava em nós mesmos, não no outro”, conta Ernesto. “Além disso, o ganho está no compromisso de levar o mundo da leitura a lugares e pessoas que não tinham acesso, promovendo a diversidade de leitura, seja em livros tradicionais, seja em Braille ou em audiolivros, que disponibilizamos em parceria com a Fundação Dorina Nowill”.
Uma vez incorporada a acessibilidade, o tema reflete naturalmente nas atividades da Biblioteca de Flores. Como nas duas últimas edições do Dia Nacional da Leitura, quando foram oferecidas palestras sobre aprofundamento familiar para idosos e exposição do acervo em Braille e de audiolivros, pondo em destaque um acervo inclusivo e acessível que possibilita o uso do espaço e do conteúdo da biblioteca por todos os membros da comunidade, com acesso e conforto de um público variado.
Equipe responsável: Instituto Ecofuturo
Texto: Reni Adriano
Biblioteca Ler é Preciso Professor Carlos Borges
Inauguração: 19 de julho de 2008
Local: Centro Cultural Nunense
Endereço: Praça Dom Vicente s/nº – Sítio dos Nunes – Flores – PE. Sertão de Pernambuco
Contato: gizamariaviana@yahoo.com
Planta da Biblioteca de Flores
Para ir além:
Acessibilidade: Discurso e prática no cotidiano das bibliotecas (UNICAMP)
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