11 set
“Os Sentados”, Arthur Rimbaud e a proibição dos livros
No final do século XIX, o jovem Arthur Rimbaud era assíduo à biblioteca da pequena aldeia de Charleville, na França, onde ele nasceu. O poeta que morreu muito jovem, mas viveu o suficiente para mudar os rumos da literatura ocidental, gostava de livros de ciências antigas, na adolescência. Mas era impedido de acessá-los pelos próprios funcionários da biblioteca, que diziam que aqueles livros eram impróprios para um rapazinho de 16 anos. Revoltado, Rimbaud escreveu um poema satírico, ridicularizando aqueles bibliotecários. Sabem qual era o título do poema? Vejam só que emblemático: Os Sentados.
Mais de um século depois, precisamente ontem, no alardeado 11 de setembro, é desmontada a ideia de obrigar as editoras a imprimir a classificação etária na capa dos livros, como previa o projeto de lei do deputado Jefferson Campos (PSD-SP). Entre os motivos apresentados no parecer pela rejeição, ocorrido na Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados em Brasília e redigido pela deputada Fátima Bezerra (PT-RN), está o fato de que essa “classificação indicativa pode gerar algum tipo de cerceamento do pleno exercício do direito de acesso ao livro”, além do “cerceamento à livre manifestação do pensamento”.
Portanto, não é preciso a desculpa da genialidade, como no caso do jovem Rimbaud, para se ter o direito de livre acesso aos livros. Quando falamos em direitos, falamos de todos – incluindo aí as pessoas comuns que todos somos, de resto. Direito, aliás, tão pouco observado ainda na nossa cultura.
O parecer da deputada, que pode ser lido na íntegra aqui, não deixa de atentar para a nossa obrigação, num país democrático, de promover a leitura e a familiaridade com o livro. “No país de leitores que desejamos, acreditamos que cabe confiar a tarefa de orientar as escolhas de nossas crianças e adolescentes, não à autoridade pública, mas aos próprios mediadores de leitura – pais, professores, bibliotecários, livreiros e outros leitores”
Dito isso, só nos resta perguntar, a nós mesmos, mediadores de leitura: por que nossos jovens não estão lendo Rimbaud? Eles, que quando o leem, adoram, e esperando por esse prazer sem nem saberem que existiu aquele jovem inquieto e brilhante, andarilho por excelência que, quanto mais andava, mais escrevia, visionário de amores intensos, estadias no inferno e barcos bêbados? Por quê? Este autor tão necessário para que talvez “sentemos menos”, sintamos mais e nos coloquemos em movimento?
Equipe responsável: Instituto Ecofuturo
Texto: Reni Adriano